Comércio de Famílias e Tradições

Mercado da Boa Vista:


Na volta das noitadas, a última parada é ir tomar café da manhã nos mercados que se espalham pelo Recife, para a maioria dos nativos, isto já virou um programa clássico. Na verdade, as pedidas são as últimas cervejas acompanhadas dos conhecidos pratos nutritivos, como o cuscuz, pirão de costela, galinha à cabidela, a famosa macaxeira com carne de charque e outros pratos mais variados da comida regional. No Mercado da Boa Vista a concentração de pessoas também é tão grande como a dos outros cinco maiores mercados da Região Metropolitana do Recife (Madalena, Casa Amarela, Encruzilhada, São José e Afogados), mas a maioria dos comerciantes e clientes é do próprio Bairro da Boa Vista, inclusive os sindicalistas que fazem grande número no pátio.

O mercado que já foi cenário de assassinato, estrebaria, ponto de tráfico de negros vindo da África durante a colonização e, até cemitério da igreja Santa Cruz, hoje vive e comemora uma nova estrutura e organização. Quando tudo começou, no início do século XX, o mercado servia como ponto de tráfico de escravos, em que os negros comercializados no Recife eram levados para lá e colocados nos atuais boxes, porões de especiarias, e negociado ou leiloado com os grandes produtores e agricultores. Com o passar dos anos, os escravos não poderiam mais ser comprados da África, e o império também promulgou em 28 de setembro de 1885, a lei sexagenária, que garantia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade. Isso dificultou cada vez mais o tráfico dos escravos e aquele mercado clandestino.

Em pleno século XXI, o Mercado da Boa Vista ainda trás em sua origem, apesar de passar por várias reformas, em que foi totalmente restaurado e reinaugurado em 02 de dezembro de 1946, a estrutura arquitetônica de Portugal. Apesar de outras três reformas na década de 90, o mercado nunca perdeu sua essência, possui em sua entrada um portal original do século XX e entre pilastras, enormes grades de ferro, conhecidas como maçã portuguesa. O espaço público serve também, além de uma grande contribuição histórica, como um ambiente de interação, em que a rádio Comunitária Voz do Mercado, leva até os indivíduos que estão naquele ambiente, músicas brasileiras em suas refeições e muita cultura e lazer, através de projetos sociais que envolvem os jovens recifenses.

O comércio da Boa Vista possui um diferencial bem curioso dos outros mercados. Lá, Lídia Gonçalves Pereira, trabalha com um mini-salão de beleza. O salão que é muito badalado por todos os comerciantes do mercado, reúne essa família para colocar os assuntos em dia. E foi nesse pequeno espaço de quatro metros quadrados que Antônio Santana revelou a saga da família Santana dentro do mercado. Lídia trabalha há 10 anos no mesmo local e cobra apenas “seis reais por um corte de cabelo, seja homem, mulher ou criança”. Amigo íntimo de Lídia, Antonio relata, no salão de beleza Cortes da Lídia, que seu pai, “Seu” Adalton Santana, foi assassinado em 1990 por um cliente que tinha uma divida com um funcionário. Seu Adalton já trabalhava no pátio há mais de 20 anos até falecer com dois tiros no peito. Ainda hoje, o tio de Antônio, Otacilio Santana, vive do comércio no local e possui duas mercearias. Antônio Santana possui uma lanchonete fora do mercado, vivendo desses sustentos, ele diz que sua vida inteira foi criado com muito amor por todos os trabalhadores com que sua família conviveu e que até hoje ele convive.

Este mercado guarda anos de tradição, e esta imensa família sempre está de braços abertos para novos freqüentadores.



Postagem: Poliny Aguiar - Editora da Coluna Cinema

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